Sobreviventes do ramo livreiro e como continuam se expandindo diante das adversidades

 As gigantes livrarias que permanecem em crescimento no mercado, mesmo após a pandemia e concorrência com o ramo digital

Livraria Cultura / Foto: PublishNews

Por: Rebecca Timoner

Impactos da pandemia no setor literário


No período de isolamento que se fez na pandemia, os brasileiros encontraram na leitura uma verdadeira rota de fuga para passar o tempo. Nessa crescente, as vendas digitais aumentaram e assim que o comércio retornou a ativa, as livrarias ficaram na contramão do varejo digital. Grandes nomes do mercado literário como livraria Cultura e a Saraiva, fecharam suas portas diante das dificuldades enfrentadas, como lidar com os baixos preços vendidos pela internet e manter o público interessado em frequentar a loja física.


Em contrapartida, outras gigantes literárias como Livraria da Vila, Travessa e Leitura permaneceram em contínua expansão e acabaram ocupando os espaços deixados pela Cultura e pela Saraiva. A livraria Martins Fontes, também resistiu diante das adversidades que a pandemia trouxe e conseguiu conciliar o ramo digital com o funcionamento das lojas físicas.


A digitalização de livrarias e editoras

Em entrevista ao Quinta Notícia, Vitor Tavares, um dos sócios da Distribuidora Loyola de Livros e ex-presidente da CBL (Câmera Brasileira do Livro), comenta sobre os desafios de manter as livrarias na era digital e pós pandemia. Ao ser questionado sobre quais estratégias podem ser utilizadas para manter o público atraído para as livrarias físicas, o empresário menciona os 4P’s do Marketing. “Por em prática os 4P’s do marketing é essencial: Bom ponto comercial, preços justos nos produtos, boas ações de promoções de venda e produtos de qualidade. Nesse caso, ter sempre os livros mais vendidos, os best seller, e lançamentos. Jamais deixar a livraria sem os livros que estão sendo divulgados nas mídias e redes sociais. Os livreiros que seguirem esses preceitos, sempre terão sucesso.”


Vitor conta que o uso de novas tecnologias é essencial para manter um bom relacionamento com os clientes, “ Sem as novas tecnologias de gestão, controle de relacionamento com clientes, boa interação nas redes sociais da livraria e até mesmo uso de IA para compor o acervo e reposição dos livros na livraria…Quem não souber utilizar as redes sociais e as novas tecnologias em favor da livraria física terá muita dificuldades em se manter presente e com a livraria aberta e viável financeiramente.”


Vitor Tavares, presidente da CBL entre 2019 e 2023 / Foto: CBL

Já do ponto de vista dos livreiros, como Roberto Xavier que atuou mais de 20 anos na Martins Fontes Paulista, a linha é tênue nessa relação entre as lojas físicas e o ramo digital, “ Para as editoras é maravilhoso que existam influenciadores digitais, com milhares de seguidores, vendendo seus livros. Para as livrarias também. Afinal, é um público que já chega com a certeza do que quer. Para o livreiro, nem tanto. Perdemos a função de indicar e oferecer possibilidades para o cliente. Nos tornamos meros atendentes repositores para esse público em especial, com sua linguagem própria e suas idiossincrasias. Em alguns casos, para a livraria o problema é que ela se torna uma vitrine do que os frequentadores querem ver e tocar antes de decidir pela compra em algum marketplace. E tudo por uma questão de valor. Muitas vezes vendemos para atender o site, já que na loja certos livros ficam estagnados. E toda livraria está presente em pelo menos um marketplace dos grandes sites, no melhor estilo do "se não pode com ele, junte-se a ele". Por quanto tempo isso manterá a livraria física, é outra coisa. Uma loja online vende para o país e o mundo, tem um alcance muito maior. O espaço físico sobrevive como um lugar de encontros e socialização.”


Ao ser perguntado sobre como enxerga o futuro do livro impresso para os próximos anos, Roberto se mostra preocupado com o custo alto da matéria prima, que impacta no preço final do livro. “ O livro impresso permanece pela preferência do público pelo papel, a encadernação, a arte da capa. O livro como objeto colecionável. Isso é algo que o livro digital não substitui. Mas é claro que existe um fator preocupante que impacta no preço final do livro, que tende a se
tornar um problema a longo prazo. Faz alguns anos, uma editora importante não tinha condições para comprar papel e o catálogo inteiro deles esgotou. Não fosse uma parceria com a Amazon naquela ocasião, eles teriam falido. Hoje estão recuperados, mas nunca é demais lembrar o conjunto de fatores que podem prejudicar esse segmento. A matéria prima quando é  escassa se torna muito cara e o custo de impressão não é pouco e acaba inflacionando o preço final do livro. Então, a curto prazo o livro impresso segue firme, mas se tivermos um desastre que prejudique a produção de papel, a longo prazo será preferível o digital.

O interesse dos jovens pela leitura


Apesar do crescimento de algumas livrarias físicas como a Drummond Livraria que foi aberta a um pouco mais de dois anos e recebe uma grande variedade de eventos literários com um público curioso de jovens leitores, o setor de livros digitais em relação às editoras faturaram mais de 158% nos últimos 5 anos, segundo a pesquisa coordenada pela Câmara Brasileira do Livro, “Produção e Vendas do setor Editorial Brasileiro”.


Em setembro de 2024 tivemos a 27° Bienal do Livro de São Paulo, que reuniu um público de  diferentes gerações de leitores, tendo os jovens como destaque. A grande influência para a presença desse público em específico, são as mídias sociais, como o TikTok. Foi possível perceber filas de estudantes, professores e jovens saindo com pilhas e mais pilhas de livros. A edição da Bienal do Livro de São Paulo esse ano contou com a presença de nomes como Lynn Painter, autora de “Melhor que nos filmes” e Jeff Kiney, autor de “Diário de um banana”, sucessos entre o público jovem.

Divulgação / Bienal do Livro

Esse interesse dos jovens pela leitura, pode ser atribuído ao período da pandemia, já que as opções de lazer fora de casa ficaram reduzidas. 


Apesar disso, uma pesquisa realizada pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidência no Debate Educacional) mostra que 66% dos jovens brasileiros, não leram nenhum texto com mais de 10 páginas, e um dos motivos pode ser o alto uso das redes sociais e internet.


Comments

Post a Comment

Popular Posts