Brasil registra queda nos casos de dengue em comparação ao mesmo período do ano de 2024, mas sorotipo 3 do vírus preocupa especialistas da saúde
Em 10 anos, é a primeira vez que se tem registro do sorotipo 3
Por Mariana Santos e Mirela Almeida , Quinta Notícia - São Paulo
O
Brasil registrou uma redução de aproximadamente 70% nos casos prováveis de
dengue em 2025, em comparação ao mesmo período de 2024. No entanto, o estado de
São Paulo teve um aumento expressivo de casos devido à circulação do sorotipo 3
do vírus, classificação que preocupa gestores e profissionais da saúde.
Desde
o início de janeiro, foram registrados 322 óbitos, e outros 656 estão em
investigação. Só no estado de São Paulo, o número de vítimas chegou a 238, e há
437 mortes sob investigação. Os números obtidos são das primeiras semanas
epidemiológicas de 2025 até a publicação desta matéria.
O
sorotipo 3, é uma das quatro variações do vírus da dengue, que há mais de uma
década não era identificado nos boletins de vigilância epidemiológica. A
população não possui imunidade contra esse tipo de vírus, uma vez que a
imunidade de um indivíduo para a dengue é sorodependente, ou seja, se a pessoa
teve dengue causada pelo sorotipo 2, ela ganha imunidade apenas contra esse
sorotipo. Nos últimos anos, os principais sorotipos que circularam pelo estado
de São Paulo foram do tipo 1 e 2.
O
vírus da dengue (DENV), transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, especialmente
em países tropicais, como o Brasil, pertence à família dos flavivírus e possui
quatro sorotipos:
DENV-1,
DENV-2, DENV-3 E DENV-4. Embora pertençam à mesma espécie, possuem diferenças
em suas composições antigênicas, sendo assim, são suficientemente diferentes
para que a infecção por um deles não desenvolva imunidade contra os outros
sorotipos.
O que falam os especialistas
De
acordo com o coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia,
Alexandre Naime, as altas temperaturas e tempestades dos últimos dois anos são
os principais fatores que favorecem a formação de criadouros e a proliferação
do mosquito-da-dengue.
Além
disso, o especialista aponta que as regiões periféricas concentram o maior
número de casos da doença, em função da ausência de saneamento básico e o
difícil acesso a repelentes e outras medidas para o combate da dengue.
Segundo
o Ministério da Saúde, cada um dos sorotipos pode causar infecções
assintomáticas até quadros mais graves da doença, sendo assim, infecções
posteriormente por diferentes sorotipos aumentam o risco de formas mais graves
da doença.
Estudos
ainda indicam que após a segunda infecção por qualquer sorotipo, existe uma
predisposição para quadros mais graves, independentemente da sequência dos
sorotipos envolvidos. No entanto, o DENV-3 é considerado um dos sorotipos mais
graves da doença, tendo maior potencial para agravar a doença.
Sintomas e tratamento
Os
principais sintomas da dengue, que caracterizam um quadro mais leve da doença,
são manchas vermelhas no corpo, presença de febre e dores de cabeça e/ou atrás
dos olhos. Aos primeiros sinais, o paciente deve procurar uma unidade de saúde
para obter orientação médica e tratamento adequado.
A
maioria dos pacientes se recuperam após repouso, no entanto, outros sintomas
podem surgir, tornando-se um a agravante da doença, que pode levar até mesmo a
óbito. Esses sintomas indicam o extravasamento de plasma dos vasos sanguíneos
e/ou hemorragias, sendo eles: dor abdominal, vômito persistente e sangramento
de mucosas.
Desde
2024, o Ministério da Saúde tem adquirido doses da vacina Qdenga contra a
dengue. No entanto, devido à baixa capacidade de produção do laboratório
japonês Takeda, a imunização foi restrita a grupos prioritários, como crianças
e adolescentes de 10 a 14 anos, e a 1900 municípios com mais de 100 mil
habitantes, onde a doença é mais recorrente.
Prevenção
A
dengue possui um padrão sazonal, com picos de casos entre outubro de um ano a
maio do ano seguinte. Questões apontadas por Naime, como a urbanização,
crescimento da população, ausência de saneamento básico e fatores climáticos,
contribuem para o surgimento e reprodução do mosquito.
Além
de ações dos agentes da saúde, o Ministério da Saúde orienta a população a
realizar medidas que impeçam a difusão da doença, como esvaziar garrafas PET,
potes e vasos, limpar as calhas da casa, manter a caixa d’água, tonéis e
outros reservatórios de água bem fechados e limpos, não acumular e amarrar bem
os sacos de lixo.
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