Experiência e oportunidade: desafio de pessoas 50+ na recolocação profissional

 Se aposentar para ‘‘aproveitar a vida” já não é mais a realidade

Escrito por Maria Rita Coutinho e Natália Baron

Reprodução: Pexels

Não é novidade que pessoas sonham com o momento da aposentadoria após longos anos de dedicação ao trabalho. A ideia de comprar uma casa de praia, viajar e, finalmente, ‘aproveitar a vida’ é a vontade de muitos trabalhadores, e já pode ter sido a sua. De certa forma, esse ideal surge através de crendices populares de que a partir de certa idade, a pessoa já não tem mais tanta utilidade para contribuir na sociedade.

Mas essa realidade está mudando, visto que com o aumento da longevidade, pessoas com mais de 50 anos estão apenas na metade de uma longa trilha. Segundo o Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população “cinquentona” aumentou significativamente nas últimas décadas. As projeções indicam que esse grupo chegará a 69 milhões em 2030 e 102,7 em 2070.

Entretanto, as empresas ainda não estão preparadas para esses profissionais experientes. Segundo uma pesquisa sobre etarismo e inclusão  no mercado de trabalho, realizada pelas empresas Robert Half e Labora em 2024, 66% dos desempregados acima dos 50 anos apontam o preconceito de idade como um obstáculo para a recolocação no mercado. 


Fonte: Robert Half e Labora

Dentre os principais problemas está a falta de oportunidades para crescimento na carreira, onde 68% relata acreditar que há diferença de oportunidades entre gerações, e dificuldade em avançar nas etapas de seleção.

A situação se agrava para mulheres a partir dos 50 anos. Quando analisamos o cenário do público feminino, 32,2% das empresas relatam que elas representam menos de 5% da força de trabalho, evidenciando que mulheres seniores estão ainda mais sub-representadas em comparação aos homens da mesma faixa etária.

Em entrevista para a Exame, Ana Maria Stecchi, de 57 anos, falou que após anos trabalhando no setor financeiro, ela foi demitida aos 50 anos do cargo de gerente do segmento de pessoa física que ocupava em uma grande rede bancária. Para ela, voltar a estudar foi fundamental para conhecer um novo mercado e ingressar novamente no mercado de trabalho.

Ana Maria Stecchi (Arquivo Pessoal/Divulgação)

A idade ainda é um problema 

Questionadas sobre ocorrências de casos de etarismo, cerca de 60% das empresas entrevistadas afirmam nunca ter presenciado preconceitos por idade, mas relatam dificuldades na colaboração entre diferentes gerações, sendo os principais desafios os conflitos geracionais (32%) e problemas de comunicação e integração (29%).

Além da falta de visibilidade sobre casos de etarismo, mais de 70% das empresas não possuem indicadores para medir o impacto de suas ações contra esse tipo de discriminaçao e não possuem iniciativas para aumentar a diversidade etária nos processos seletivos.

Para enfrentar o problema, parte das empresas está adotando estratégias de recrutamento e seleção voltadas ao aumento da inclusão de profissionais mais velhos. As iniciativas incluem revisão de descrições de vagas para evitar viés etário e a adoção de programas de seleção voltados exclusivamente para esse público. 

Segundo Fran Winandy, especialista em diversidade etária, em entrevista ao jornal Zero Hora, as empresas precisam sair do raso, focar em recrutamento e seleção não é suficiente, é necessário pensar em programas de inclusão que funcionem a longo prazo, focando em promoções, transferências, no desenvolvimento dos colaboradores, e no momento de desligamentos.





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