O impacto no mercado de trabalho

 Por Mariana Souza

Apesar das perdas significativas, os dados mais recentes indicam que o setor está em processo de reconstrução. Imagem: Freepick

 

A crise provocada pela pandemia também deixou marcas profundas no mercado de trabalho ligado à gastronomia. Durante os períodos mais críticos do isolamento social, os efeitos foram imediatos e devastadores para quem trabalhava em bares, restaurantes e similares. Segundo estimativas do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SinHoRes), cerca de 30 mil vagas de emprego foram eliminadas apenas no litoral e no interior paulista durante a quarentena. Na capital, a situação não foi muito diferente: com a redução da carga horária, corte de salários, fechamento temporário ou definitivo dos salões e a limitação ao serviço de delivery, muitos empregadores não conseguiram manter suas equipes.

Ainda segundo o SinHoRes, 20% dos postos de trabalho do setor foram perdidos em 2020, refletindo o impacto brutal de um cenário que combinava baixa demanda com custos fixos altos. No auge das restrições, 55,3% dos estabelecimentos afirmaram ter demitido funcionários para conter prejuízos. Além disso, 74,5% interromperam totalmente as atividades de atendimento presencial, enquanto 48,8% migraram para o sistema de entregas, tentando driblar as limitações. Mesmo assim, 8,5% dos negócios não conseguiram reabrir nem nas fases mais brandas das medidas de contenção, como a fase verde.

Para muitos empreendedores, o impacto foi irreversível. É o caso de Cíntia Santos, ex-proprietária da Lanche na hora, uma lanchonete que funcionava na região da Faria Lima. “Quando bateu o terceiro mês fechado e o aluguel continuava vindo. Eu ainda tentei manter a esperança e comecei a vender pelo Ifood, mas o movimento nunca chegou nem perto do que era”, contou. “Uma hora eu olhei as contas e pensei: não vai dar.” Hoje, ela trabalha como cozinheira em um restaurante de comida caseira. “Voltar foi difícil no começo, machuca o orgulho, né? Mas depois eu vi que era o que dava pra fazer. Hoje tô mais tranquila.”

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada em janeiro de 2025 pelo IBGE, bares e restaurantes criaram 230 mil novas vagas de emprego em 2024. Esse número representa um crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior, desempenho muito acima da média nacional, que ficou em 0,8%. A recuperação, embora gradual, mostra que o setor voltou a contratar e retomar sua posição como um dos pilares do mercado de trabalho no país.

Gráfico sobre os impactos e recuperação no setor. Gráfico: Mariana Souza



Essa percepção otimista é compartilhada por Ágatha, estudante do 3º semestre de Gastronomia: “Ver que os restaurantes estão se reerguendo, que chefs estão abrindo casas novas e que tem mais gente sendo contratada me dá esperança. É um bom momento pra quem está começando.” Ela também não esconde o receio com o futuro da profissão: “Acho que depois do que aconteceu, a gente sempre fica com aquele medo de uma nova pandemia, de tudo fechar de novo. É um trauma coletivo, né?”

Com esse avanço, o número total de trabalhadores no setor de alimentação atingiu 5,74 milhões de pessoas em 2024, o maior já registrado na série histórica iniciada em 2016. Esses dados consideram a categoria Alojamento e Alimentação, na qual bares e restaurantes respondem por cerca de 85% das vagas. O impacto dessa recuperação vai além dos próprios estabelecimentos. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), feito em parceria com a Abrasel, apontou que para cada mil empregos diretos gerados no setor, outros 2.250 postos de trabalho são criados em áreas relacionadas, como transporte, agricultura, logística e serviços, evidenciando o papel estratégico da gastronomia na engrenagem da economia brasileira.

 

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